sexta-feira, 16 de março de 2012

Reflexo


Ela se via na frente do espelho. Se via sorrindo, coração acelerado, bochechas coradas. Sentia um arrepio, resolveu desviar o olhar. Mas algo a fazia olhar de novo, e sorrir de novo, e ficar corada de novo. Ela olhou para as suas mãos, estavam ocupadas com outras. Olhou para os seus pés e se deparou com quatro. Olhou para dentro de si e viu apenas um coração. Então ela riu. E só parou de rir porque o espelho perguntou ‘o que foi?’. E ela respondeu ‘vejo o meu reflexo, vejo nossas mãos, vejo duas almas. E vejo o nosso coração. O amor é único, ocupando dois corpos distintos. Não é metade, é apenas um e indivisível. Não é poroso, é equilibrado. É meu e seu, é a nossa essência. É a gente.’ E o espelho - castanho - sorriu também.

Sutilmente


E o que eu sinto está desnomeado
Vagando sozinho, perdido no espaço
Esperando afeto, carinho e afago
Um pouco de amparo
Um colo, um teto


Não procuro solução, pois sei que não há
Voltar no tempo, talvez, poder respirar
Reerguer um sorriso, sentir-me acompanhada
Não sou mais uma flor, encontro-me despetalada


Alimento-me de nostalgia,
É o que me restou, bem ou mal
Sonhava com uma vírgula,
Mas convivo com um ponto final.